Relatório Anual 2015

OBJETIVO 3 | Promover a valorização do patrimônio cultural (material e imaterial) de São Miguel Paulista e sua conexão com a cidade

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Sexta edição do Festival do Livro e da Literatura oferece programação em mais de 40 pontos do bairro e contribui para o acesso ao livro e à literatura

Estimular o gosto pela leitura, democratizar o acesso ao livro e à literatura, contribuir para a valorização do patrimônio cultural e a ampliação do acesso ao letramento da população de São Miguel Paulista são as principais motivações para a realização anual do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel Paulista.

Em 2015, em sua sexta edição, o Encontro contou com expressiva participação das instituições locais e da população. Entendendo por letramento o uso da leitura e da escrita como prática social, como vivências em que leituras de mundo e leituras de palavras se entrecruzam e constroem novos sentidos e contextos, foram desenvolvidas inúmeras ações e intervenções pelos parceiros envolvidos nos mais de 40 pontos com atividades na programação, que teve como mote o tema Diferentes Vozes para Construir Histórias.

A escolha desse tema sintetizou as reflexões e os debates sobre a democracia brasileira – que então completava 30 anos – empreendidos pelos diferentes atores envolvidos na construção da programação, como escolas, coletivos culturais, instituições locais, moradores, apoiadores, instituições públicas e demais atores que integraram a realização do evento. Dessa forma, o Festival do Livro e da Literatura de São Miguel Paulista materializa, em seu próprio processo de construção, os princípios democráticos que orientam o evento desde sua primeira edição, com a promoção de encontros e ações pautados pela construção compartilhada, pela valorização da escuta, da liberdade de expressão e criação, pelo respeito à diversidade e pela valorização do patrimônio material e imaterial da região, contribuindo para fortalecer as redes de cooperação locais.

O tema também refletiu os movimentos de intolerância que a sociedade brasileira então vivenciava e que, depois, se intensificaram com o acirramento das polarizações, violências e falta de diálogo que impediam a construção de projetos de sociedade que tinham o convívio e o bem-estar social como princípios fundamentais. Além disso, o mote lançou um olhar sobre os posicionamentos políticos que visavam reduzir as garantias e os programas sociais conquistados pelos diversos povos que lutam ao longo de vários anos, sendo que a promoção da justiça social é fundamental para a garantia da existência e escuta das diferentes vozes que compõem a nossa história.

Nesse sentido, em 2015, tivemos diversas atividades na programação, formando um mapa literário na região cuja multiplicidade de linguagens, formatos e conteúdos traduziram com autenticidade o mosaico de ser democrático. Durante os três dias do evento, diversas contações de histórias, intervenções artísticas, saraus, conversas com autores(as), apresentações de dança, teatro e música, exposições, sessões de cinema e cortejos possibilitaram momentos privilegiados para o exercício do diálogo e da alteridade, estimulado pelas vivências e aprendizagens mediadas pelos encontros com a arte e com a literatura na programação cultural.

Além disso, as ações de distribuição gratuita e troca e venda de livros contribuíram significativamente para tornar os títulos cada vez mais acessíveis para a população. Mais de 3 mil livros, arrecadados na Campanha de Livros do Festival, foram distribuídos gratuitamente para a comunidade com a intervenção Frutos Literários (exemplares pendurados nas árvores). Foram realizadas também mais de 4 mil trocas de livros.

Outras ações que apoiam o diálogo com o tema do evento e com seus objetivos são as mesas de conversa com o autor. Em 2015, foram organizadas três sessões em um encontro entre comunidade, intelectuais, estudantes e educadores da região. As reflexões contaram com a presença dos autores Bernardo Carvalho, Cadão Volpato e Hamilton Faria, que abordaram questões como a forma como o contexto político e social se torna enredo e personagem da literatura, e, por sua vez, como a ficção influencia a realidade, muitas vezes amplificando vozes e sugerindo novas formas de ver, viver e sonhar outros mundos.

Também estiveram presentes os autores Alessandro Buzo, Ricardo Teperman e Tiaraju Pablo, que discutiram os impactos no processo democrático e na luta pela igualdade, provocados pelo Movimento Hip Hop, e, ainda, Leonardo Sakamoto, Luiz Ruffato e Piero Locatelli abordando as possibilidades que as redes sociais e a internet abriram para os debates, que constituem o processo democrático.

Essas ações configuraram-se como importantes estratégias para alcançar os objetivos do Festival, que compreendem o aprimoramento da leitura, da escrita e do letramento de alunos de escolas públicas, de participantes dos projetos da Fundação e do público das instituições envolvidas na programação, bem como a humanização dos espaços públicos a partir da ocupação cultural e criativa e a promoção de reflexões e debates acerca dos problemas e desafios sociais contemporâneos.

Outro importante aspecto do Festival é a articulação dos diversos atores institucionais e não institucionais do território, que desenham com a Fundação Tide Setubal caminhos conjuntos para a programação do evento, com base no diagnóstico de suas ações e nas demandas da comunidade. Esse processo permite o exercício da construção compartilhada, promove trocas de experiências e contribui para o fortalecimento do capital social e a construção das redes nos territórios onde os parceiros estão inseridos.

Essa construção colaborativa reflete um aumento no número de pontos com atividades coordenados pelos parceiros. Nesse sentido, observando o histórico de realização do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel Paulista, notamos que, em 2011, ano em que o evento ganhou as ruas da região, havia 19 pontos com atividades; em 2012 e 2013, foram 21 locais. Em 2014, o número subiu para 31 pontos. Em 2015, mais de 40 pontos formaram o mapa do Festival no bairro, com a participação de mais de 18 mil pessoas em suas atividades, entre crianças, adolescentes, jovens e adultos moradores da localidade e de outras regiões da cidade.

Para muito além de números, o Festival se expressa em uma legítima e efetiva experiência de participação e conexão literária, humana, urbana e social cujos aspectos do desenvolvimento humano e local, trabalhados ao longo do ano pelos diversos agentes e instituições envolvidos, culminam em uma programação diversa comprometida com o debate, a reflexão, o fortalecimento das identidades e a construção de vínculos de solidariedade e cidadania. O compromisso se faz também presente no patrocínio do Banco Itaú e no apoio do Itaú Cultural, por meio da Lei Rouanet, além das parcerias estratégicas com a Prefeitura Municipal de São Paulo, o Sesc Itaquera e a Universidade Cruzeiro do Sul.

Nesse processo, é possível observar, também, que muitas instituições passaram a organizar suas agendas anuais e letivas de modo a convergi-las com a realização dessa festividade, elaborando propostas de intervenções e projetos alinhados com os objetivos do Festival.

São exemplos as EMEFs Faveira do Mato e Antônio Carlos de Andrada e Silva, que, juntas, desenvolveram sessões do Cine Literário – Direitos Humanos em Pauta, no qual, entre outros filmes, foi exibido o longa Sem Pena (Eugênio Puppo, 2014). A projeção iniciou um debate com a presença de defensores públicos do Núcleo Especializado de Situação Carcerária da Defensoria Pública de São Paulo e do professor Douglas Belchior, além de realizar diversas ocupações poéticas na Esquina Literária durante os dias do Festival.

Outras escolas têm desenvolvido práticas semelhantes, consolidando a parceria com o Festival do Livro e da Literatura de São Miguel Paulista, que reúne também instituições e equipamentos da localidade. Nesta sexta edição, foram 27 escolas públicas e instituições de ensino, 18 instituições culturais e socioeducativas, além de duas Unidades Básicas de Saúde, todos responsáveis pela realização de atividades da programação. Também, outras nove instituições da região participaram como público de atividades ofertadas espalhadas pelos pontos marcados no mapa do bairro.

Tanto os parceiros quanto o público das instituições avaliam que fazer parte do Festival contribuiu para ampliar o olhar para o território e suas potências, sobretudo quando participam de intervenções que ressignificam espaços como parques, praças, ruas e lugares de convivência do bairro. Destacam, ainda, as vivências com a literatura, em suas diferentes linguagens e suportes artísticos, como promotoras de um diálogo efetivo com uma ampla diversidade de pessoas, estabelecendo pontes e conexões onde havia resistência e representações negativas sobre o mundo da palavra e da leitura.

Reconhecer essas questões possibilita a compreensão dos desafios no trabalho com a literatura, ainda mais no contexto social das periferias da cidade, onde a escassez de equipamentos e o baixo fomento às atividades culturais realizadas pelos coletivos e grupos que ali residem dificultam ainda mais o acesso da população a essas produções, estéticas e linguagens como recursos para ampliar o repertório sobre a vida.

Atuação além do Festival – Essas foram algumas das questões também trabalhadas cotidianamente pelos Pontos de Leitura Jardim Lapenna e Tide Setubal, geridos pela Fundação Tide Setubal em parceria com o Sistema Municipal de Bibliotecas (SMC). Atuando com o objetivo de promover o acesso à cultura escrita e à produção literária, propiciando vivências em que diversas práticas de leitura e escrita são experimentadas, ampliando as possibilidades de acesso aos bens culturais, materiais e imateriais, pela população que vive em uma região afastada dos centros de maior informação e produção cultural, em 2015, os Pontos de Leitura desenvolveram uma série de atividades.

Além de seu expediente diário de acesso ao acervo por meio de empréstimos, consultas, mediação e rodas literárias, por exemplo, o Ponto de Leitura Jardim Lapenna realizou as oficinas Intercâmbio Cultural Vagalume e os Círculos de Leitura, em parceria com a EE Professor Pedro Moreira Matos.

O Programa Rede reúne educadores, adolescentes, escolas e ONGs da cidade de São Paulo e de comunidades da Amazônia Legal brasileira e é mediado pela Rede Vaga-Lume. O Ponto de Leitura Jardim Lapenna participa dessa iniciativa e, semanalmente, realiza encontros com adolescentes e jovens no Galpão de Cultura e Cidadania. No primeiro semestre, foi trabalhado o tema Quem Somos, com o objetivo de contribuir para que os participantes fortalecessem sua identidade e valorizassem o meio em que vivem. Já no segundo semestre, foi trabalhado o tema Meio Ambiente, no qual os jovens vivenciaram experiências de mobilização e sensibilização a respeito da qualidade do meio em que vivemos.

Já o projeto Círculos de Leitura foi realizado com alunos do 7° ano da EE Professor Pedro Moreira Matos, do Jardim Lapenna. Por meio dessa parceria, os educandos percorreram o bairro com destino ao Ponto de Leitura e, nesse espaço, com a professora de Língua Portuguesa da escola, os alunos realizaram rodas de leituras que promoveram reflexões sobre temas da atualidade, como questões sobre convivência, respeito à diversidade, história do Brasil, fruição estética, entre outros.

Em 2015, o Ponto de Leitura Jardim Lapenna teve uma frequência total de 12.277 pessoas e o Ponto de Leitura Tide Setubal contou com a presença de 2.499 pessoas ao longo do ano. Avaliando o impacto das ações, observa-se que um dos resultados obtidos é o despertar do interesse pelo prazer de ler, contar e ouvir histórias pelas crianças, adolescentes e adultos, o que possibilitou tornar o Ponto de Leitura um espaço de encontro com a leitura e com a reflexão, configurando oportunidades de diálogo sobre temas da atualidade e do universo da fantasia e da literatura a partir de rodas de conversa em que o acolhimento, a escuta e a valorização das potências locais são os pressupostos de atuação.