Relatório Anual 2015

OBJETIVO 3 | Promover a valorização do patrimônio cultural (material e imaterial) de São Miguel Paulista e sua conexão com a cidade

Oferta de serviços

Identidade, saberes locais e participação da comunidade fortalecem a construção de ações culturais

Presente em todas as suas áreas de atuação e assimilado como pressuposto e princípio norteador de qualquer ação da Fundação Tide Setubal no território, o respeito ao saber local das comunidades e instituições é o que dá sentido ao “fazer com”. Desse modo, a cultura como campo da expressão das identidades e subsidiária do patrimônio material e imaterial se apresenta como uma dimensão fundamental de atuação e reflexão sobre os modos de vida numa perspectiva crítica sobre o desenvolvimento sustentável.

Os encontros formativos em linguagens artísticas e culturais aprofundaram habilidades corporais vinculadas à compreensão e valorização das culturas negras e suas histórias de resistência e desenvolveram, a partir da dança contemporânea, ferramentas narrativas e repertórios de representação simbólica.

Os módulos voltados à produção teatral iniciaram 2015 com pesquisas de autores contemporâneos para, posteriormente, convergirem na produção de textos com temáticas suscitadas pelo grupo, com base em histórias de perdas vividas pelos participantes, e reforçadas pela iminente demolição do CDC para a construção do CEU São Miguel. Tais reflexões levaram à produção coletiva da peça Um Fim para um Começo, que, a partir de depoimentos de perdas vivenciadas pelos participantes, fala sobre a morte simbólica, ao mesmo tempo que conta a história de uma comunidade que se vê obrigada a abandonar seu chão para a construção de uma avenida, porém, encontra a superação da dor em sua própria cultura.

Já no segundo semestre, as discussões sobre temas como mobilidade e violência fizeram com que as pesquisas e as reflexões acerca do território conduzissem o trabalho dramatúrgico a focar o transporte público e a homofobia. O segundo tema surgiu do grupo a partir da notícia do assassinato, pela Polícia Militar, da travesti Laura Vermont, na Avenida Nordestina, em São Miguel Paulista, no mês de junho. Tais temáticas promoveram discussões sobre direitos humanos e explorações poéticas sobre o cotidiano nas estações de trem, culminando numa série de avisos poéticos como “Cuidado com o vão entre a realidade e a ficção”. As pesquisas e os exercícios dramáticos realizados resultaram no espetáculo Pisando no Vão da Humanidade. A peça apresenta histórias realistas e absurdas que se cruzam dentro de um vagão de trem, contando o cotidiano de pessoas como cada um de nós, que buscam se equilibrar entre o vão e a plataforma todos os dias. No percurso, são abordados temas como democracia e direitos humanos, violência contra grupos étnicos, questões de gênero e possibilidade de um novo diálogo na era da democracia virtual.

Os grupos de dramaturgia ainda desenvolveram criações para radiocontos (http://www.goear.com/listen/debd8b4/caminhada-finalwalter-figueiredo) e para a produção de um curta-metragem, Troca de Passes. No filme, no qual também atuaram, os participantes contam a história de dois jovens, Caique e Wellington, com sonhos diferentes e marcados por diferentes obstáculos; o caminho dos dois se cruza, revelando situações conflituosas permeadas de preconceito e limitações. Esse trabalho participou da mostra competitiva pela internet da nona edição do Festival Entretodos de curta-metragem sobre direitos humanos.

Ao longo do tempo, a Fundação desenvolveu uma série de estratégias de ação que se traduziram em ambientes de reflexão e sociabilidade, instâncias participativas, de mobilização e atividades formativas em diversas áreas e linguagens.

Essas ações e os projetos especiais são pensados e construídos com os participantes das atividades da Fundação, bem como com a comunidade local, fortalecendo o protagonismo e a expressão identitária de São Miguel Paulista.

  • Fórum de Moradores, em que se discutiram as formas de ocupação do território e suas implicações socioambientais, os modos de organização comunitária para mediação de demandas junto ao poder público e controle social de serviços e políticas públicas, qualificando o debate e a cultura participativa com base em escutas, dados e reflexões conjuntas;
  • Reuniões Socioeducativas, encontros com famílias que proporcionaram um ambiente de sociabilidade, utilizando a escuta coletiva sobre a história de vida e memória e o cotidiano das famílias e do bairro para refletir sobre a realidade local e as diversas trajetórias de vida, uma experiência de humanização por histórias compartilhadas e contextualização social;
  • Comissão de Moradores do Jardim São Vicente, frequentadores do CDC Tide Setubal, reunida no “Movimento para assegurara manutenção das práticas culturais, esportivas e comunitárias, formas de ocupação, gestão e curadorias compartilhadas doClube da Comunidade Tide Setubal” para garantir os saberes locais e o patrimônio imaterial, fruto das experiências acumuladaspela comunidade ao longo de 38 anos de atuação no Clube da Comunidade, o grupo produziu um documento que foi entregueao poder público;
  • Parceria com a instituição Vaga Lume permitiu estabelecer um intercâmbio cultural com comunidades localizadas na Amazônia Legal brasileira, levando crianças e jovens participantes a olhar criticamente onde vivem e ampliar seu repertório sobre outras possibilidades de relação com o patrimônio ambiental.