Relatório Anual 2015

Fundação Tide Setubal investe em formação de agentes culturais para mobilização de recursos

Um dos maiores desafios enfrentados por artistas e grupos culturais é a sustentabilidade financeira de suas atividades, sobretudo para os grupos existentes nos territórios periféricos das cidades. Embora existam avanços no acesso a recursos, promovidos por programas específicos do poder público, ainda há um trajeto importante para estruturação de um sistema que garanta a continuidade da produção artístico-cultural. Para enfrentar esse desafio, o Movimento Cultural das Periferias propõe, por exemplo, a criação da Lei de Fomento às Periferias, o PL 0624/2015, que, de forma inovadora, busca equidade nos investimentos da municipalidade, bem como a ampliação do orçamento da Secretaria Municipal de Cultura.

A Fundação Tide Setubal, em 2015, identificou a necessidade de atuar na articulação de grupos e atores locais para constituir instâncias de formação colaborativa a partir do Módulo de Elaboração de Projetos Culturais para Editais, que auxiliou grupos e coletivos artísticos na leitura e interpretação de editais públicos de fomento à criação artística, como o Programa de Valorização de Iniciativas Culturais (VAI) e o Programa de Ação Cultural (ProAC).

Para tanto, desenvolveu metodologia de trabalho que permitiu aos grupos escreverem seus próprios projetos, mas as discussões e reflexões acerca dos objetivos, justificativas e ações propostas eram discutidas e observadas por todos, a partir de um olhar sobre os territórios-objetos das intervenções e propostas culturais. A diversidade de visões sobre a ação cultural, estratégias de atuação e linguagens artísticas trabalhadas, bem como as formas de abordagem para cada público e território, permitiu enriquecer a visão e o repertório dos participantes e promoveu novas conexões entre os atores e parcerias artísticas entre projetos.

Na primeira edição do módulo em 2015, voltada para o edital do programa VAI, foram elaborados e inscritos cinco projetos:

• Projeto Flyer Circular – proposta de um passeio no tempo com uma exposição de circulares (filipetas de divulgação, hoje conhecidas como flyers) de bailes de black music realizados desde a década de 1970, em São Miguel Paulista;
• Projeto M.A.P. – Movimento Aliança da Praça – projeto para a realização de 16 eventos culturais em forma de sarau e batalhas de poesia para abrir espaço à exposição do trabalho produzido pelos artistas residentes no bairro e na zona leste de São Paulo, tendo como produto final a publicação de uma antologia poética;
• Projeto Arte e Culinária Afro-Brasileira – Comida de Pobre? – proposta que visa oferecer um conjunto de oficinas com foco na cultura afro-brasileira para homenagear a afrodescendência do povo brasileiro, ampliando os conhecimentos a respeito da arte e culinária brasileira;
• Projeto Festival Arte Independente 100 Inter-Mediário – propôs realizar oito eventos com premiações e troféus nas categorias música, literatura e sarau para um público estudantil.

Na segunda edição do módulo, voltada aos editais do ProAC, os projetos elaborados foram:

• Projeto da Banda Alana Workshow de Culturas Populares – ProAC Culturas Populares – propôs o desenvolvimento de oito oficinas de percussão voltadas para ritmos populares de diferentes regiões do país, em oito ONGs da região leste, e a realização de quatro shows com a participação dos oficinantes na sede do Instituto Alana;
• Projeto do Núcleo Flyer Circular – projeto Som de K7 – ProAC Hip Hop – propôs a realização de oito exposições em lugares públicos dos bairros de São Miguel Paulista e Itaim Paulista, contando a história da dança de rua dentro do movimento hip hop, a partir do surgimento da fita K7 e do som portátil;
• Projeto de Lika Rosa e Aliados – Mouco (Ouve Pouco ou Quase Nada) – ProAC Audiovisual – propôs a realização de oficinas de música popular brasileira e de outras linguagens, como teatro e literatura, para a realização de trabalho audiovisual.

Os projetos elaborados mantêm uma relação estreita com o território, pois buscam o fortalecimento de identidades locais, a valorização da cultura negra e do patrimônio imaterial, produzido por movimentos culturais, e o protagonismo artístico cultural dos jovens de São Miguel Paulista. Entretanto, apesar de serem alinhados às demandas locais, ainda existe um caminho a percorrer na busca de garantir melhor qualidade na elaboração de propostas e na descrição dos objetivos, intenções conceituais, ações e impactos esperados pelas intervenções, tendo em vista que a cada dia a concorrência pelos recursos de editais é maior.

Destacamos que alguns grupos que frequentaram o módulo hoje participam de editais de forma autônoma, provando que fortalecer e empoderar a comunidade local é uma forma de impulsioná-la a vencer os desafios encontrando seus próprios caminhos.